São dez anos que já convivo com ela, ainda que cercada por gente me sinto sozinha, vivendo em um mundo a pá. Viver para cuidar dos filhos tornou-se sinônimo de "ser diferente" e ser diferente para a nossa sociedade é algo inaceitável. A cada dia essa diferença nos torna seres invisíveis. Onde quer que esteja a única coisa que as pessoas enxergam é " uma mãezinha", "coitadinha só vive para os filhos", " que cruz!", somos excluídas como se não pudéssemos fazer absolutamente mais nada, pois o fardo que carregamos é difícil demais, porém ninguém nunca nos pergunta se podemos ou não fazermos outra coisa... Vivemos desbravando absolutamente tudo para podermos sobreviver em um mundo exclusivista, afinal somos "mãezinhas especiais"!É necessário entender que dentro de cada mãe especial também existe um ser humano, uma mulher, passível a erros, a fraquezas e que tem inúmeras necessidades. Como todo ser humano precisamos respirar outros ares, ser cuidadas e ouvidas também. Há dores que guardamos e nunca contamos a ninguém e isso não é porque somos retraídas, mas sim por que não encontramos ouvidos dispostos a nos ouvir. Desabafamos em secreto no quarto ou debaixo do chuveiro, quietinhas transformamos nossas necessidades e dores em oração para não incomodar aqueles que estão por perto.
Outras como eu recorrem ao um psicólogo ou a escrita, transformam sua dor em palavras, desembaraçando tudo o que há de embaraçado aqui dentro, no silêncio da vida as palavras escritas liberam a dor do barulhento dia de silêncio. Exatamente isso, quem tem um filho não verbal sabe o tamanho do barulho que o silêncio faz.
Tentando fazer a diferença esforçamos-nos todos os dias para ser útil ou pelo menos para viver um dia normal, mesmo sendo vistas como "coitadinhas" ou "guerreiras", nos esforçamos para cumprir nossas tarefas diárias com toda força que há em nós. E quando chega a noite ao contemplar minha imagem no espelho não consigo enxergar a coitadinha ou a guerreira, somente vejo uma mulher que carrega em um corpo extremamente cansado uma alma extremamente forte. Enquanto uns realizam no seu dia a dia a tarefa de um profissional, nós "coitadinhas" realizamos a tarefa de vários, somos empregadas domésticas, babás, enfermeiras, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, pedagogas e fonoaudiólogas todos os dias.
Por esse e por tantos outros motivos acabamos ficando sozinhas, realizando com todo o nosso ser cada tarefa necessária para oferecer uma vida melhor aos nossos filhos, porém isso não faz de nós seres excepcionais, diferentes ou incapazes de realizar outras tarefas, somos capazes sim de irmos além das paredes da nossa casa, dos cuidados com os nossos filhos. Somos capazes sim de nos divertir, de sorrir, de sair, de trabalhar fora, de realizar um projeto social, de desempenhar um cargo na igreja, somos sim capazes de irmos além. Não somos guerreiras ou coitadas, somos gente, assim como você, realizando as tarefas diárias, sobrevivendo as dores do dia a dia, como qualquer um aí fora.
E mesmo assim, sem platéia, sem ouvintes seguimos em frente, por que aprendemos que estamos aqui para cumprir uma missão e nada mais. Um dia toda essa solidão acabará, o cansaço e fadiga desaparecerão, mas até lá enfrentaremos a solidão sem desistir jamais!
Imoni Marinho

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